Prestes a completar 90 anos, Milton Bezerra Cabral chama atenção não somente pelos cargos que exerceu no passado, chegando a ser governador da Paraíba, em um mandato-tampão, mas pela lucidez atual na análise da conjuntura política e econômica do Estado e do Brasil. Embora radicado há anos no Rio de Janeiro, ele acompanha os fatos políticos da terra natal, pois pelo menos duas vezes ao ano vem ao Estado. O filho do saudoso Severino Cabral, o “Pé de Chumbo”, esteve em Campina Grande, na última quinta-feira. Ele veio e representou a família na solenidade de reinauguração do Teatro Municipal, construído pelo seu pai, Severino Cabral, e que foi restaurado pelo atual prefeito Veneziano Vital do Rêgo.
Aproveitou também para rever amigos na Rainha da Borborema. Em meio a agenda movimentada, Milton Cabral concedeu entrevista ao Jornal da Paraíba. Falou da reinauguração da casa de espetáculos, de mais um reencontro com Campina e com a Paraíba. Sobre a política, afirmou que não houve muitas mudanças de conteúdo na condução da gestão pública e que a Paraíba é dominada por três forças políticas, representadas pelo PSB, do governador Ricardo Coutinho; PSDB, do grupo Cunha Lima; e do PMDB, do ex-governador José Maranhão. Ele alertou para a necessidade de adotar medidas urgentes para tirar o Estado do atraso econômico e social.
Milton Cabral ainda detalha como entrou na política por estímulo do pai e enfatizando o trabalho nos cargos públicos que ocupou. Quanto ao seu pai, classifica como o melhor prefeito da história de Campina. Em relação aos bons governadores, ele cita Pedro Gondim, João Agripino, Wilson Braga e Cássio Cunha Lima.
ENTREVISTA
- Como foi o atual reencontro com Campina Grande?
- Eu comecei a ter uma ideia mais precisa do atual desenvolvimento da cidade quando vim do avião de Recife e quando a aeronave se aproximou, baixou para encontrar a pista e foi possível olhar pela janela o Bairro do Tambor. Verifiquei que há novos conjuntos residenciais em volta, muitos prédios de apartamentos em construção e o distrito industrial me pareceu muito ocupado com fábricas. Aquela área está em franco processo de crescimento e desenvolvimento. No centro da cidade, ainda encontrei com muita construção, muito movimento, dinâmica e tráfego de automóvel intenso em todas as ruas.
- E a reinauguração do teatro?
- Eu fiquei muito bem impressionado, o que me foi mostrado pelo secretário de Educação, Flávio Romero. Dessa vez foi feito um trabalho de renovação total, absoluta em suas três áreas bem distintas. O teatro foi renovado completamente. O prefeito Veneziano Vital do Rêgo, com a colaboração do secretário Flávio Romero, desenvolveu um trabalho de primeira classe. É um orgulho para Campina Grande ter um teatro desse, pois no Nordeste não há outro melhor, pode ter maior.
- Há muita diferença entre a política da sua época para hoje?
- Estou um pouco ausente da política de hoje. Saí do governo do Estado, em março de 1987, portanto, estou há 24 anos fora da política. Tudo muda, tudo avança, nada fica parado. O quadro político é que não mudou muito.
- Como assim?
- As lideranças do PSDB continuam as mesmas, as lideranças do PMDB continuam as mesmas e a novidade é a liderança do novo governador Ricardo Coutinho, do PSB. Hoje, a Paraíba tem três forças políticas. Uma liderada pelo atual governador, outra pelo ex-governador José Maranhão (PMDB) e outra pelos Cunha Limas (PSDB).
- Como avalia a situação econômica da Paraíba?
- Em relação à Paraíba, eu acho que o Estado está carente de algumas medidas novas e alguns empenhos novos. Eu sinto que o atraso da economia paraibana é muito grande, embora o progresso de Campina e João Pessoa sejam acentuados, com uma capital muito bem arrumada e pujante. Nem por isso, podemos dizer que a economia da Paraíba vai bem.
- Em quais indicadores que o sr. se baseia?
- Os volumes da exportação são modestos, o volume do comércio interno é modesto, a exemplo da produção agrícola e da indústria. Então, nós precisamos de algumas inovações e planejamento que impulsionem a atividade econômica, a indústria e a agricultura para a produção de novos modelos, aproveitando novas tecnologias, porque o mundo está andando rapidamente.
- Como situa a Paraíba no cenário nacional?
- Em relação ao Brasil, a Paraíba está atrasada. Tanto que na região Nordeste, a Paraíba hoje deve estar, em termos de progresso, em sexto ou sétimo lugar.
- E o Brasil no mundo?
- Agora, o Brasil é um país que está progredindo muito. Esse progresso é proclamado não só aqui internamente, mas no mundo todo. Hoje, nos Estados Unidos e na Europa, os vários governos dos países olham o Brasil como um parceiro de igual para igual. Não é que a economia brasileira seja igual à americana ou alemã, não é, mas é igual no respeito, na consideração e no tratamento.
- E a projeção do Brasil no mundo?
- Realmente o Brasil está se projetando como um líder na América do Sul, distanciou-se da Argentina. E agora se situa entre os dez maiores países do mundo em termos de economia.
- O que o Brasil precisa para fi-car na ponta do desenvolvimento?
- Para o Brasil ficar entre os primeiros, é preciso acabar com a extrema pobreza e o analfabetismo. Há várias escalas ainda a serem ultrapassadas, destacadamente essas duas que eu falei. Estes baixos níveis precisam desaparecer da história da economia brasileira.
- Como seu pai entrou na política?
- Severino Cabral entrou na política de uma forma muito especial, que no fundo tudo começou com uma provocação. Cabral era um homem ligado ao progresso de Campina Grande. Ele era um comerciante vitorioso, que lutava pelo comércio da cidade. Em relação à Prefeitura, reclamava das ações do governo. Ele tinha um estilo agressivo. Quando não se conformava com uma coisa, reclamava. Liderou um grupo de comerciantes e foi reclamar do prefeito de algumas medidas que Campina precisava para progredir e que a Prefeitura estava muito passiva.
- E como Seu Cabral chegou à Prefeitura de Campina?
- Por causa desse movimento, os companheiros de Cabral achavam que ele devia se candidatar a algum posto e ele então resolveu concorrer a deputado estadual e foi eleito. Com o gosto pela política, ele achou que podia fazer mais por Campina Grande e decidiu se candidatar a prefeito. Na primeira tentativa, não teve sucesso e perdeu para Elpídio de Almeida, que era aliado de Argemiro de Figueiredo. Na sucessão de Elpídio, ele venceu a eleição.
- E como o sr. entrou na política partidária?
- Cabral fez, como todo mundo reconhece, uma boa administração. Por conta disso, eu entrei na política, me elegi deputado federal, duas vezes, fui senador duas vezes e governador. E Cabral, lamentavelmente, morreu aos 72 anos, mas ainda com muita força política, e poderia ter feito muito mais, se estivesse vivo.
- E a eleição a vice na chapa de João Agripino?
- João Agripino se lançou candidato ao governo do Estado. Quando a campanha deslanchou, as pesquisas davam João Agripino como perdendo o pleito. Os apontamentos davam a vitória do adversário (Ruy Carneiro, que tinha como vice Argemiro de Figueiredo). Agripino tomou uma decisão drástica, convenceu o candidato a vice a renunciar e convidou Cabral para ser o vice dele. Cabral aceitou e João Agripino venceu as eleições. Depois de eleito, desprezou o apoio de Cabral que terminou perdendo o cargo. Isso é uma manobra terrível da política paraibana que eu não gostaria de comentar. Foi um episódio negro da história paraibana.
- Quem foi o melhor prefeito de Campina e o melhor governador da Paraíba?
- O melhor prefeito de Campina Grande foi, evidentemente, Severino Cabral. O melhor governador fica difícil de definir. Temos alguns bons, outros maus e outros péssimos. Entre os bons governadores, posso citar aqui os nomes Pedro Gondim, João Agripino, Wilson Braga e Cássio Cunha Lima, entre outros.
Da engenharia para a política
Formado em engenharia, Milton Cabral é filho do saudoso Severino Bezerra Cabral, ex-prefeito de Campina Grande, deputado estadual e vice-governador no período 1966-1971 na chapa com o governador João Agripino, no entanto, não ocupou o cargo por questões pessoais.
Milton ingressou na política, em 1963, com mandato de deputado federal pelo PTB, reeleito em 1967. Em 1971, é eleito senador pela então Arena (Aliança Renovadora Nacional), ficando até 1978 e indicado como senador biônico a mais um mandato de 1979 a 1986.
Depois, com a desincompatibilização do governador Wilson Braga e seu vice-governador, José Carlos da Silva Júnior, em 1986, é eleito pela Assembleia Legislativa da Paraíba como chefe do Executivo estadual, por vacância do cargo. Permanece no Palácio da Redenção até 15 de março de 1987, passando o cargo para Tarcísio Burity.
Milton Cabral também foi presidente da Confederação Nacional da Indústria - CNI, membro do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria - Sesi. Além disso, Bezerra Cabral foi representante da Confederação Nacional de Indústria, no Conselho de Administração do Iapi Diretor do IBC - Instituto Brasileiro do Café.
Fonte: Jornal da Paraiba